O Alienista em cordel

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Gente, hoje falaremos de literatura brasileira, O Alienista, de Machado de Assis, o mestre da literatura brasileira- uma figura icônica de textos tão melindrosos, que chego a ter receio de falar sobre ele. rs

Você conhece Machado de Assis?

Acho que sim, né? Será que existe alguém que ainda não conheça Machado de Assis? Talvez algum estrangeiro, mas quem nasceu no Brasil acho pouco provável, pois acredito que todos os brasileiros que já estiveram em uma sala de aula já ouviram falar de Dom Casmurro, Quincas Borba ou Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Bem, vou confessar uma coisa, não me levem a mal, mas eu nunca fui muito fã de Machado não, pode ter sido um pecado, mas é que eu achava a linguagem muito rebuscada e complexa para meu entendimento na época de escola. Achava bem chato mesmo, mas eu também  tinha uma leitura imatura, não gozava do entendimento que tenho hoje. Sem falar da falta de incentivo nas escolas públicas à leitura.

Hoje, Machado de Assis não é um dos meus escritores favoritos, mas gosto de diversos textos dele, O Alienista é um deles, isso aconteceu muito tempo mais tarde, pois fui mudando um pouco minha opinião com relação a esse ícone da literatura. Apesar de eu acreditar que ninguém é obrigado a gostar de nada,  as pessoas são acostumadas a reafirmarem que amam determinado artista ou coisa, somente porque o  senso comum diz que tem que ser assim, se você se opõe a isso, é muitas vezes visto como ignorante.

Tem um outro mestre, mas este das artes plásticas, que eu ainda hoje não sou muito fã, que é o Picasso. ☺ Não gosto da fase cubista dele e também o acho bastante machista.

Voltando para Machado.

Joaquim Machado de Assis foi um escritor brasileiro, sendo considerado o maior nome da literatura brasileira, transitou praticamente em todos os gêneros literários; poesia, romance, crônica, dramaturgia, conto e folhetim. E também foi jornalista e crítico literário. Nasceu em 21 de junho de 1839, no morro do Livramento, Rio de Janeiro. Vindo a falecer em 29 de setembro de 1908.

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Pois bem, essa é a segunda vez que li O Alienista. Um dos contos que sempre me fazem amar Machado. Gosto muito do texto e da ideia que ele transmite através da ironia. É um texto atemporal e que me faz ri bastante.

O Alienista, como eu já citei anteriormente, é um conto de Machado de Assis, que foi originalmente publicado entre 1881 e 1882, como parte da coletânea Papéis Avulsos. É um conto que expressa uma crítica de maneira irônica ao cientificismo e positivismo do século XIX .

Tanto o cientificismo, quanto o positivismo foram métodos e correntes filosóficas que surgiram na Europa e se difundiram por outras partes do mundo, inclusive, na América.

“O cientificismo é a crença dogmática na autoridade do método científico e nos seus resultados. O termo também implica a atitude de valorização altamente positiva do papel da ciência no desenvolvimento da cultura em particular, e da sociedade em geral.

O positivismo consiste na observação dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na concepção positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação à observação, tomando como base apenas o mundo físico ou material.”

O cientificismo teve a concepção filosófica de matriz positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade e o
positivismo fez uso do obscurantismo para dominação.

Estas duas correntes tiveram algo em comum que foi descobrimento de instrumentos adequados para formular as exigências de um novo tipo de autoritarismo em defesa dos seus interesses corporativos.

Um exemplo  recentemente de cientificismo foi a escravidão, onde  era baseada em justificativas “científicas”, nos quais a “raça superior” deteria o “direito” de governar as “raças inferiores”. O famoso racismo cientifico.

O racismo cientifico também foi reaproveitado pelo nazismo para justificar a superioridade da “raça”  ariana sobre o povo judeu, após a primeira guerra mundial.

Sem se aprofundar neste assunto, voltamos para a crítica de Machado de Assis no conto, O Alienista.

Muitos  críticos veem O Alienista como uma novela. Eu particularmente, vejo como um conto, pois identifico que a estrutura textual está mais plausível dentro deste gênero. Constituindo um só conflito, um só drama, uma só ação e um fim.

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A versão que tenho é em cordel, adaptação de Rouxinol do Rinaré, editora Nova Alexandrina, lançado em 2008.

O Alienista narra a história de Simão Bacamarte, um médico que morou em Coimbra, Portugal e volta ao Brasil assumindo a responsabilidade de identificar e tratar todos aqueles que ele qualifica como “doentes mentais”, na pequena cidade de Itaguaí. E para receber estes alienados, é instalado nesta cidade um hospital que ele põe o nome de a Casa Verde.

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O estudo da mente interessava profundamente Bacamarte, preenchendo todo o tempo da sua vida. Mesmo depois de ter casado, continuou fissurado em descobrir mais sobre a loucura, deixando de lado sua esposa, que passa a ser carente de atenção e a choramingar pelos cantos. Bacamarte passou a internar todos que demonstrassem qualquer indícios de loucura, qualquer tipo de distúrbio diagnosticado era recolhido à Casa Verde, que a cada dia ia recebendo mais lunáticos. Cada um com um tipo de loucura.

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A iniciativa, a princípio, foi apoiada pela população, que viam o alienista como um benfeitor. Depois mudando de ideia, Simão decide que os loucos são os justos, os honestos, os pacatos, recolhendo todos no hospício para tratamento. Só os considerando curados quando eles abandonam estas virtudes.

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As atitudes de Simão provocou uma rebelião liderada por um barbeiro Porfírio- revolta dos Canjicas, nome usado por ser o apelido do líder. Chega um momento que Simão interna até a Dona Evarista, sua mulher. Por acordar um dia de manhã e encontrá-la em frente ao espelho admirando as jóias e o vestuário.

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A forma de narrar um conto em versos é muito interessante. É adorável ler algo com pinceladas de bom humor, mesmo que o Rouxinol do Rinaré se esforce para se manter no original, a construção literária rimada em cordel embeleza ainda mais a história, pois traz ritmo, rima e dá uma sensação que está sendo cantada como um repente. É muito poético. A narrativa não muda em nada e alguns aspectos são acrescentados o que deixa mais enriquecedor. Maravilhoso é O Alienista em Cordel.

E sobre a temática do conto, nos faz refletir sobre a formação moral e psicológica do alienista e da sociedade em si.

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Onde a vila de Itaguaí aparece como um retrato da sociedade brasileira, no Brasil Colonial, as novidades da ciência de Simão Bacamarte são as mesmas que os psiquiatras do século XIX trazem à sociedade, pela via da medicina social.

Tudo que chegava da Europa era exaltado e visto como maravilhoso. Em todos os campos, inclusive, na medicina.
E pelo fato de termos um grande obscurantismo na sociedade brasileira, nunca foi difícil vender uma ideia.

Na época não tínhamos um nome para definir tais atitudes, atualmente pelo fato de ainda existir essa ilusão que o que vem de fora é melhor, chamamos de complexo de vira-lata, pois até hoje temos a mania de desvalorizar tudo o que é nacional para superistimar o que é estrangeiro.

O mesmo foi no século XIX, os médicos brasileiros fundamentavam-se, nas modernas teses européias sobre a influência de fatores como o meio externo, aspectos geográficos, sociais e econômicos, na saúde dos indivíduos.
E Machado de Assis brincou de ironizar esta realidade em seu texto, pois através dos conceitos moldados nas teorias européias foi montado o asilo, a Casa Verde do alienista. No final, ficamos nos perguntando junto com Machado quem é o verdadeiro louco.

Ótimo conto, hiper indico. Você vai ri e se deliciar com essa obra prima do grande Machado de Assis. Se você já leu O Alienista em cordel comente e compartilhe também sua opinião.

 

Beijo e até a próxima!

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3 comentários em “O Alienista em cordel

  1. Olá, sou Rouxinol do Rinaré, autor da adaptação citada neste blog. Peço a gentileza de corrigir meu nome na postagem, pois está escrito Rouxinol do NAZARÉ. rsrs

    Curtido por 1 pessoa

    1. 😲 Acho que agora foi. Dê uma olhadinha e me confirme, por favor. Olha, peço-lhe desculpas. Eu que sou muito distraída mesmo. 😏

      Quero aproveitar a honra da sua leitura e comentário para lhe parabenizar e agradecer por esta maravilhosa adaptação. É realmente adorável! Conseguiu fazer de uma obra de arte outra arte. 😍 Um beijo e td de bom! 🤗⚘

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