Oi, gente!
Hoje vou falar do Rio de Janeiro, um lugar famoso, legal, bonito, descolado, quem ainda não conhece, e tem vontade de conhecer que seja hiper bem-vindo, mas, traga um colete à prova de balas. ( brinks)
Saiba que de todas citações que faço do Rio, voce pode anotar e pegar o positivo para conhecer, pois deixarei sublinhado.
Porém a postagem é mais um desabafo. Sei que diversos estados do Brasil tem suas dificuldades, mas hoje, abordarei o Rio de Janeiro, na gringa sou considerada carioca, mas então, na realidade sou é fluminense, entretanto, este é um Estado no qual tenho propriedade para falar, pois nasci neste lugar.

Quando criança , eu amava o Rio de Janeiro, fantasiava quase como se fosse O Fantástico Mundo de Bob, talvez por conhecer o Rio dos cartões postais somente pela televisão, era como se eu morasse em outro estado, mas era apenas outro município.
São cerca de 28 km, aproximadamente, Uma hora sem trânsito – o que é quase impossível.
A primeira vez que fui à praia estava com minha mãe que foi resolver algo no bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio, assim resolveu nos levar( eu e meus irmãos) para conhecer a praia.
Eu devia ter uns 8 anos. Era a praia do Flamengo , que fica ao lado da praia de Botafogo, a esplêndida enseada – que por sinal tem uma vista magnífica do Morro da Urca, porém, inapropriada para banho.

Depois passei ir diversas vezes com a ex esposa de um tio à praia de Ipanema . Frequentemente, eu a acompanhava junto meu irmão mais velho e meus dois primos.
Achava aquilo incrível, só em sentir o cheiro da maresia meu coração disparava, quando sentia o cheiro do protetor solar, e via aquele sol escaldante quase fritando um ovo no asfalto, me sentia muito feliz e viva, não podia imaginar lugar melhor no mundo.
A gente saía bem cedo de casa, por volta de umas 7horas da manhã, para aproveitar bem o dia, meu falecido primo levava uma boia gigante e enchia no posto de gasolina, no Arpoador, e depois íamos andando até o posto 9. Point carioca da praia – já naquela época.
Fui crescendo e meu amor pelo Rio de Janeiro também. Até que ao completar 17 anos, fui à praia, digamos, que sozinha, pois não tinha nenhum responsável, e sim uma prima da mesma idade.
Ipanema tinha um lugar especial no meu coração. Achava tudo perfeito. Corpos sarados e sorrisos talhados – só flerte, como cantava Cidade Negra, na musica Solteiro do Rio de Janeiro.



Daquele momento em diante passei a ser uma “rata de praia”, ia à praia quase todos os dias, vivia bronzeada, com marquinha de biquíni, estava sempre negociando um desconto no biscoito O Globo e no Mate Leão, conhecia muitos artesãos, os barraqueiros do posto 9, e estava sempre para aplaudir o sol no Arpoador no fim do dia.
A noite ia á Lapa, muitas vezes ficava na rua Joaquim Silva, onde rolava reggae, e eu esbarrava com os mesmos artesãos da praia e outras vezes na Escadaria Selaron . Lugares fechados era o Circo Voador , Fundição Progresso e Vivo Rio para shows, o Rio Scenarium , o Sacrilégio e o Carioca da Gema para dançar música brasileira, barzinhos adjacentes e boates do centro e Zona Sul.
Eu amava o Rio, e me sentia a própria Garota de Ipanema ao caminhar pela orla.😀
Comentava com amigos que tinha uma preguiça enorme de andar por D.Caxias, mas na Zona Sul andava quase do Leme ao Pontal.
Ipanema era onde eu sempre queria estar e estive por um bom tempo, passei a trabalhar e até morar na Zona Sul. Trabalhei em Botafogo, Copacabana, morei e trabalhei no Leblon.

Demorou, mas meu encanto pelo Rio de Janeiro chegara ao fim. E descobri que tudo que via no Rio não passava de ilusão. É tipo aquele lance de paixão, quando você se apaixona não vê defeito, então, era eu com o Rio de Janeiro.
Vivia deslumbrada com a Zona Sul, passando a não suportar até mesmo minha cidade de nascimento, Duque de Caxias.
Hoje em dia eu amo dizer que sou de Duque de Caxias e aprendi a amar meu lugar de nascimento, pois nada como você reconhecer suas raizes e tentar fazer a diferença naquele pequeno espaço em torno de você.
Sim, o Rio de Janeiro tem paisagens muito bonitas, que inclusive, vão além da Zona Sul, Petrópolis , Região dos Lagos, Cachoeiras de Guapimirim e Trilhas de Xerém , Pedra do Telégrafo, Pontal.
Na Zona Sul tem a Pedra Bonita , onde a galera faz trilha e solta de parapente e asa-delta, inclusive, já saltei.

O Pão de Açúcar , Corcovado,Pedra da Gávea , Floresta da Tijuca, Morro dos Irmãos , entre outros- são as belezas naturais tão grandiosas quanto aos problemas que o estado enfrenta diariamente.
Como cantava Caetano Veloso “Cidade Maravilhosa , cheia de encantos mil.” Se referindo a Zona Sul, é óbvio.
Hoje muitos ainda postam fotos no instagram e Facebook com esta frase e realmente acreditam nisso.
Afinal, maravilhosa para quem? Para de caô e manda o papo reto, maravilhosa sou eu, minha mãe, minha avó que saiu de Minas Gerais para trabalhar em casa de família na década de 50, sem saber ler, conseguiu criar e educar 15 filhos, mesmo sofrendo com meu avô.
Ela é maravilhosa por ser uma sobrevivente deste sistema patriarcal, machista e racista.
Porque o Rio de Janeiro perdeu a maravilha, pois só deve ser maravilhosa para quem mora em um apartamento na Delfim Moreira e adjacências, que só atravessa o Túnel para desfilar em alguma Escola de Samba no Carnaval ou para ir ao Aeroporto Internacional – Galeão, pois vive mais fora do Brasil do que no Rio de Janeiro.
Pode até ser maravilhosa para algum turista desavisado, para aquele estrangeiro que está de passagem, aproveitando o melhor, e não tem tempo para conhecer a realidade a fundo.
Hoje, vejo diversas pessoas reclamando do Rio de Janeiro, dizendo que tem vontade de deixar a cidade, mas em sua grande maioria a elite carioca , que teme a violência que nem os atinge tanto como as classes baixas, ou seja, os pobres.
Enquanto outros defendem com unhas e dentes, dizendo que o Rio de Janeiro é um Cidade Maravilhosa mesmo – lugar mais bonito não há.
A cidade pode realmente ser bonita, mas está longe de ser maravilhosa como pintam até hoje. Eu particularmente, acho o nordeste mais bonito.
No mínimo esses defensores do Rio de Janeiro, nunca saíram do Rio ou devem amar as novelas de Manoel Carlos, pois as novelas que continuam a pintar essa ilusão de Cidade Maravilhosa, que quem está em outro estado e outro país chega até acreditar.
Porem não é nenhuma novidade que a Rede Globo direciona a forma de pensar da população, seja em novelas, seja em noticiários.
No Rio de dia, de noite, de madrugada, infelizmente, as pessoas vivem com medo de não mais voltar para casa, pois frequente roubos, muitas vezes seguidos de morte, balas perdidas que atingem até mesmo o bebê antes de nascer, roubos de dinheiro público por governadores que se tornam bilionários em quatro anos, e a esposa também participante no crime, volta para sua linda vista do Leblon( enquanto cumpre pena), obras super- faturadas, profissionais que deveriam proteger, mas atacam cidadãos só por conta da cor de pele.
Atualmente, estou vivendo na Irlanda, mas fico muito preocupada com meus familiares e amigos, que moram nesse estado abandonado. A Europa não é nenhum paraíso, mas pelo menos você consegue ter qualidade de vida.
Você anda às 3 da madrugada sozinha e não se sente tão vulnerável como o Rio de janeiro às 3 da tarde.
Moradores de favelas sendo levados a acreditar que morar na favela é espetacular. Não, não é! Outro dia fiquei dois dias na casa de um amiga na Favela da Mangueira , e não consegui dormir, pois era um som alto até o dia amanhecer. E não era nem baile, era um carro parado na rua, ou seja, empatia zero.
Um lugar onde ainda hoje há ausência de estrutura, de respeito, de vida digna. É uma falácia falar que é bom morar na favela, faço trabalho social na comunidade de Jardim Gramacho e muitas vezes, saio de lá chorando, pois as pessoas são esquecidas, são quase que invisíveis na sociedade.

Muitos que fazem parte do sistema continuam ganhando com a dor do “favelado”.
Escrevi um poema recentemente em resposta a essa estigmatização que gira em torno do corpo negro, que em sua grande maioria vive sem oportunidade.
Na Linha Vermelha e Amarela a certeza de que a favela não é ingerida, pois temos os paredões que o prefeito Eduardinho Paes, na época de seu mandato, instalou para esconder a favela dos estrangeiros que aterrizam. E do outro lado a construção de uma ponte que o trabalho arquitetônico parece mais uma perna para o ar. Tudo indica que esse prefeito debochado, junto com o enervante do Ex governador Sérgio Cabral fizeram uma piada ao construir a ponte.
Welcome para o estado que vive de pernas para o ar.

Quando construíram esses muros com pinturas escolares, a primeira coisa que pensei, alguns conhecidos defenderam, alegando que realmente era um perigo passar na Linha Vermelha, e os paredões trariam uma certa segurança.

É muita inocência acreditar nisso, ou melhor, ignorância mesmo, pois os maiores bandidos estão de paletó e gravata e eles não atravessam a pulam na vermelha para assaltar ninguém, eles fazem isso das salas com ar-condicionado.
Infelizmente moradores não tem escolhas, como é o caso do Jardim Gramacho, onde pessoas vivem em situação de extrema pobreza.
Pode até ser bom passar um tempo em algumas favelas da zona sul que passaram pelo processo de gentrificação, principalmente, Vidigal – a “favela cool do Rio.”
Vidigal é aquela favela que tem uma vista maravilhosa, onde modelos e atores em ascensão moram, mas além deles, muitos estrangeiros que tem grana para bancar um aluguel exorbitante.
Enquanto o assalariado está cada vez mais difícil se manter em um lugar caríssimo como o Rio.
Subúrbio e Baixada com disparidades alarmantes, pessoas sobrevivem e tendem a acreditar que vivem, todos os dias tendo que viajar 4 horas para chegar no trabalho, já vivi muito isso, e só Deus e minha família sabe “o quanto caminhei para chegar até aqui, percorri milhas e milhas, antes de dormir, eu não cochilei” – A estrada.
A vida do carioca periférico é assim, ainda chega no fim do mês para receber um salário que acaba antes que termine o mês.
Essa visão de que o Rio é o mais belo e melhor lugar do mundo é uma tremenda mentira, ilusão de muitos que ainda vivem a cegueira da paixão.
Acreditam que vivem bem, só porque tem diversas praias( poluídas), e chega fim de semana e tomam aquela geladinha ao som de Wesley Safadão, ou porque vivem apreensivos a espera de fevereiro quando pulam carnaval por uma semana, ou àquela ansiedade para assistir Flamengo e Vasco na tv, pois nem para o Maracanã dá mais para arriscar.
O Rio de Janeiro da Bossa Nova é aprazível, Garota de Ipanema e Wave são bastantes poéticos e nos leva a fantasiar a perfeição.
Rebolar ao som de funk, sambar no sambódromo, aplaudir o pôr do sol no Arpoador, comer biscoito o Globo, beber Mate, cervejinha e água de coco é bom, mas qualidade de vida não se resume a isso.
Viver vai além. A vida vale mais que ter essas experiências em uma cidade que está sempre de braços abertos, entretanto, também prestes a explodir.
Não conheço pessoalmente muitos estados no Brasil, mas é claro que sei dos problemas com violência, corrupção e desigualdade aflingindo todos estados brasileiros, porém nenhum deles vive na bolha de que a Cidade é Maravilhosa.
Portanto talvez alguém diga que tenho complexo de vira-lata, e me expulse do meu lindo Rio de Janeiro, e até mesmo do meu belo, forte, impávido colosso país, porém, só quero estourar esta bolha e jogar por terra uma vez por este mito.
Lembrando, que faz um bom tempo que perdi o encanto pelo Rio, mas ainda gosto deste estado, pois hoje, vejo que Rio de Janeiro não se resume só a maquiagem que é a Zona Sul, porém o Rio de Janeiro está longe de ser uma Cidade Maravilhosa.
Sempre fui uma pessoa bem otimista e sonhadora, assim, ainda sonho com dias melhores, mesmo que pareça uma quimera, prefiro acreditar que tudo vai dá pé.
https://m.youtube.com/watch?v=ps3CFXJCypA
Inspirado no texto A vida é muito curta para morar no Rio de Janeiro.